Por enquanto, o Flamengo tem jogado, preferencialmente, no Luso Brasileiro, onde enfrentará o Athletico-PR, nesta sexta-feira, às 18h45, pelo Brasileirão. No momento, o time ocupa a terceira colocação na competição.
O ge conversou com Vitor Zanelli, vice-presidente de futebol feminino, base e futsal do Flamengo para entender as principais pautas da modalidade. A parceria com a Marinha, a utilização das dependências do Ninho, o estádio escolhido para jogos e as expectativas da temporada foram alguns pontos abordados.
O contrato com o CEFAN foi renovado por mais dois anos, ou seja, até dezembro de 2024, quando encerra o mandato da atual diretoria. O local é o principal elo da parceria que se iniciou em 2015, mas que hoje se apresenta muito diferente.
- O CEFAN é o centro de excelência de performance esportiva da Marinha.
Tem toda a estrutura profissional, tem segurança militar. A logística é
muito boa para o nosso clube. É uma parceria excelente para nós. Eu não
tenho motivos para querer sair de lá. A estrutura é excelente, o
relacionamento é excelente. Acredito no que estamos construindo. Não tem
plano B e nem plano C. Nós renovamos o contrato em função da grande
parceria que temos - disse Zanelli.
Enquanto isso, a Gávea e o Ninho do Urubu estão sendo preparados para
receber também o futebol feminino. O Estádio José Bastos Padilha, na
sede do clube, é o campo preferido das atletas para jogar. O local está
em reforma para atender o pedido da CBF de receber duas mil pessoas nas
competições oficiais.
A situação no Ninho é diferente. O projeto final da diretoria é que todas as equipes de futebol se encontrem no CT. Para jogos, o prazo é dezembro de 2024, com a construção do miniestádio para receber os times nas disputas de campeonatos feminino e de base. Para treinos do feminino, porém, ainda não há data estipulada.
- Sim, é algo planejado (treinar no CT). Mas para esse ano e para o ano
que vem usaremos o CEFAN. No CT, nós atendemos um grande número de
atletas. Estamos em reformas. Tem muitos projetos que ainda não foram
para o papel. Pode ser que elas utilizem o CT para treinar. Elas já
utilizam a área médica quando necessário. Fazem os exames lá. Mas nós
também montamos uma estrutura médica no CEFAN, tem fisiologia,
fisioterapia - comentou.
- Não dá para treinar na Gávea porque a gente guarda para jogar, jogam as categorias sub 15, 17 e 20 do masculino, além da base e do principal do feminino. Só não jogamos aqui com incompatibilidade de agenda ou horário por conta da iluminação. A gente trabalha os dois campos da Gávea para jogar. Mas não podemos ter jogos todos os dias por conta do campo. O Ninho, hoje, não suporta outra categoria. Por enquanto, não tenho como pensar em levar outra categoria - finalizou.
Apesar de o Flamengo ter a concessão do Maracanã, o estádio ainda não recebeu uma partida de futebol feminino do clube. O calendário apertado junto ao Fluminense, que também está na administração do local, é o principal motivo, segundo Zanelli. Enquanto isso, o Rubro-Negro escolhe o estádio Luso Brasileiro, na Ilha do Governador, quando é o mandante.
- Quantos estádios há no Rio? E estádios com iluminação? O Maracanã tem um calendário muito cheio, a previsão de jogos entre Flamengo
e Fluminense já é muito grande, além de outros jogos que podem
acontecer. Nós não colocamos jogos da base no Maracanã, assim como não
fazemos com o feminino. É só para não ter mais jogos. Nós queremos
preservar a qualidade do gramado para as obrigações que Flamengo e Fluminense possuem. Qualquer estádio do mundo recebe metade dos jogos que o Maracanã. É diferente - explicou o VP.
Outros trechos
Convocações para Seleção Brasileira
- Eu queria entender como o Flamengo,
que em seis meses tem uma qualidade muito boa em competições, só teve
uma convocada para Seleção? Como o Rio de Janeiro só tem uma
representante? Os resultados mostram. Nós fomos campeões no fim do ano,
tivemos um vice-campeonato. Estamos bem no início do ano. Mas só tivemos
uma convocada, e ela já vem sendo convocada. Na hora de convocar alguma
novidade também não foi nossa. Nós tivemos outras meninas que tiveram
passagem pela seleção. Eu não entendo o critério. As atletas do Flamengo tem toda a capacidade de ajudar a seleção.
Comparação com clubes paulistas
- Eu não tenho como negar que o futebol feminino paulista está muito mais bem estruturado do que o carioca hoje. O futebol feminino paulista está mais sólido. São muito mais times. Já tinha uma cultura no interior. A própria federação paulista tem um trabalho específico com o futebol paulista. A federação carioca está começando este projeto. A gente ainda está começando um processo. Eu acredito muito no potencial deste trabalho com os quatro grandes desenhando projetos novos. Nós estamos um pouco mais à frente. A diferença é mais de estrutura inicial. Eles estão mais sólidos, mas acredito no potencial do futebol carioca e acredito que em breve a gente vai conseguir deixar isso mais equilibrado. Eu torço muito para isso.
- Nós criamos um projeto para a gente poder estar e se manter lá. Os
outros clubes tiveram um problema dos times masculinos terem caído.
Essas questões todas fizeram com que eles diminuíssem o investimento.
Agora, eles estão voltando. É muito mais interessante para a gente
fortalecer o futebol carioca. A gente precisa disso. Por que você acha
que o Flamengo
está transmitindo todos os jogos do Campeonato Carioca? Porque a gente
quer valorizar o produto. E vamos fazer isso o quanto a gente puder. A
gente fala com a Ferj que temos que trabalhar juntos para valorizar
isto. Isso é bom para todo mundo, é o que temos feito.
Diálogo com clubes cariocas
- A gente conversa. A Copa Rio foi um acordo entre nós para movimentar,
dar minutagem para o Brasileiro. A conversa existe, mas cada clube lida
com o seu projeto. No Rio, nós somos o clube que mais investe. No
Brasil, estamos no top-3 junto com Corinthians e Palmeiras.
Obrigatoriedade de investir no futebol feminino
- Isso mudou muito o mercado. Primeiro foi obrigatório ter o time feminino, depois passou a ser obrigatório ter as categorias de base. A obrigatoriedade existe só para os clubes da Série A. O profissionalismo das atletas é recente. Durante muito tempo não era possível saber o calendário do ano seguinte. A CBF entendeu a modalidade e passou a investir no calendário, passamos a ter maiores investimentos e, a partir disso, começou a proteção dos atletas. Antes, os contratos, no geral, eram anuais. Agora, você consegue contratar por dois, três anos. Estamos avançando na modalidade.
- Qualquer atleta masculino de 18 anos já tem oito a dez anos de trabalho. A maioria vem do futsal. Isso quer dizer que existe um trabalho de formação no masculino. No feminino, as meninas têm três/quatro anos de formação aos 18. No Flamengo, a gente tem a categoria sub-20 que abrange também as meninas do sub-17. É um trabalho em conjunto, de forma ampla, então conseguimos fazer duas ou três gerações. É um investimento a longo prazo
- O objetivo do futebol de base do masculino é fornecer jogadores ao
profissional, seja por rendimento técnico ou financeiro. Os clubes
investem na base porque vai ganhar competição e/ou dinheiro. Os
principais clubes do Brasil são como nós, fazem 100 milhões de vendas
por ano. A visão de investir na base é de negócio. O mercado do futebol
feminino ainda é bem diferente. A maior venda do mundo foi 350 mil
libras, na Inglaterra. O que leva o clube a investir no futebol feminino
como negócio? Quase nada, não tem retorno financeiro. O investimento é
como estratégia de marketing. Nós acreditamos nisso. É bom para nossa
marca. Cada vez vamos investir mais para termos melhores resultados.
Queremos jogar fora do Brasil. Queremos ganhar títulos. Não é em
demérito a modalidade, eu quero ajudar a modalidade a crescer, mas não
dá para fazer isso sozinho. A gente precisa da CBF para melhorar os
prêmios. Os clubes são sócios, é preciso fomentar para que tudo cresça,
mas precisamos de investimento. Temos que ter um marketing muito bom,
dos clubes, dos campeonatos, para serem atrativos para as marcas. Nós
montamos um projeto seguindo uma linha. Agora é crescer mais. É preciso
transformar o futebol feminino em um bom negócio para ter um valor
maior.
Início da parceria com a Marinha
- Quando entramos aqui em 2019, o futebol feminino era quase um licenciamento da Marinha, por conta da estrutura e nós apenas cedemos a camisa porque eles tinham a intenção de disputar competições além das militares.
- Nós começamos a entender o que era o futebol feminino. É um prazer
enorme tocar essa pasta. A gente precisou entender o que era a
modalidade e o que era o Flamengo
dentro da modalidade. Em 2019 e 2020, começamos a montar o projeto. Nós
traçamos uma estratégia, e vimos um bom negócio. Precisávamos dar
engajamento para divulgar a marca e, claro, de orçamento para fazer o
time ganhar. Começamos a transmitir com a FlaTV, a comunicação e o
marketing nos ajudaram muito. Em dois anos, nós já temos a camisa
completa de patrocínio. As grandes empresas que nos acompanham já
entenderam o objetivo e compraram a ideia.
- Nós colocamos etapas. Não adianta fazer tudo ao mesmo tempo, era um
passo de cada vez. Ainda tem muita coisa para acontecer. Nós
precisávamos fazer um crescimento sólido e autossustentável. Chegou um
momento que precisava contratar atletas. Em 2021, Darlene e Rayane foram
as primeiras e a virada de chave precisava ser com nomes importantes.
Eram atletas que toparam e compraram a ideia do nosso projeto. Elas
foram as nossas referências. Isso nos ajudou muito. Em 2022, nós já
tínhamos um bom time, mas só conseguimos montar para o segundo semestre.
Ficou dentro do nosso planejamento, que era estar pronto para 2023.
Nosso crescimento está dentro do planejado.
Modelo atual de parceria com a Marinha
- É o mesmo termo de cooperação. Nós continuamos fomentando o futebol feminino juntos. Nós ainda representamos a Marinha nos campeonatos militares. O time que representa a Marinha é o nosso sub-20, e a Cida porque é a mais experiente para estar lá. A grande mudança é que nós criamos um time de atletas do Flamengo para o Flamengo. Nós precisávamos disso. As atletas do Flamengo não podem representar a Marinha porque não são da Marinha. Mas qualquer atleta da Marinha pode representar o Flamengo em qualquer campeonato porque ela pode jogar como amadora.
- A gente conseguiu montar um time de alto nível. Nós não vamos parar
por aqui. O nosso objetivo é ser campeão mundial. Mas, claro, precisamos
cumprir todas as etapas. Nós acreditamos no potencial do nosso time.
Está tudo acontecendo dentro do que esperávamos. Nós tivemos o nosso
time montado para disputar as quartas de final contra o Internacional,
em agosto. Depois tivemos a Ladies Cup, que terminamos campeões. Nós
começamos 2023 com a Supercopa, e hoje estamos em terceiro lugar no
Brasileiro. Eu acredito que estamos no caminho. O trabalho está sendo
feito e esperamos crescer ainda mais.
Temporada de 2023
- O Flamengo
não entra em competição sem pensar no título. É isso que a gente almeja
e briga até o final. Nós vamos entrar com tudo para sermos campeões.
Todos pensam assim, do roupeiro até as jogadores.
Luís Andrade, treinador português
O apoio da torcida do Flamengo
- O nosso projeto é um projeto recente. O Flamengo
tem a maior torcida do mundo, não é novidade. Nós acreditamos que
teremos esse engajamento, sim. Nosso trabalho está sendo feito para
isso, para ganhar títulos, para conquistar a nossa torcida, para poder
transformar o futebol feminino em um grande espetáculo e um grande
celeiro de títulos e de vitórias. Eu acho que vai ser e está sendo
natural. A torcida do Flamengo
vai entrar de peso nisso, vai se engajar, porque quanto mais
engajamento ela tiver, mais nós teremos possibilidade de buscar
parceiros maiores, mais parceiros. Então, o que a torcida pode nos
ajudar é engajar nesta luta, pelo Flamengo
e pelo futebol feminino, e transformando isso em um grande produto para
termos mais parceiros e mais investimentos na nossa equipe.
Fonte: Globo Esporte
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